Desde o início do dia, Dainty não conseguia tranquilizar a mente. Ele dormira sozinho aquela noite; embora Steel Strings passasse a maioria das noites com ele agora, ele dissera que tinha coisas para fazer na oficina e em casa, e queria preparar-se para o show.
Então, Dainty precisou encontrar coisas para manter a mente ocupada antes do show. Ele conferiu tudo duas vezes, e depois mais uma vez, especialmente as cópias que ele fizera do setlist:
- Será
- Quase Sem Querer
- Quando o Sol Bater…
- Ainda É Cedo
- Antes das Seis
- Eu Era um Lobisomem Juvenil
- Fábrica
- Sete Cidades
- O Teatro dos Vampiros
- Eu Sei
- Pônei na Cova dos Leões
- Vamos Fazer um Filme
- Há Tempos
- Giz
- Vento no Litoral
- O Mundo Anda…
- Vinte e Nove
- Teorema
- Esperando por Mim
- Tempo Perdido
Seu figurino estava cuidadosamente guardado e dobrado, para não amassar. Ele ficava escutando as canções nos discos, ou tocava-as no piano, só para ter certeza de que ele se lembrava de todas as letras e todas as entonações que queria usar.
Volta e meia, sua mente prendia-se na ideia de algum evento catastrófico que poderia impedir a realização do show: e se Honey Drop sofresse um acidente na fazenda e não pudesse comparecer? E se o equipamento tivesse uma pane e ficasse inutilizável? Qualquer coisa poderia acontecer; de fato, tudo poderia acontecer. Dainty tentava encontrar refúgio na música para esfriar a cabeça e manter o foco.
Quando ele caminhava na rua nos dias anteriores, ele ouvia alguns pôneis comentando sobre o show. Seus colegas também ouviram. Eles tentavam divulgar o show do jeito que podiam, e até Pinkie Pie falava para todos—segundo ela mesma, em uma das suas aulas com Honey Drop. Os quatro estavam empolgados e entusiasmados, e, se dependesse apenas dele, nada poderia dar errado.
Se alguma coisa poderia dar errado, era o próprio Dainty.
Pelos últimos dias, um pensamento ficava surgindo em sua mente, mas ele acabava suprimindo-o antes que ele pudesse vir à tona. Agora, porém, ele estava dominado pelo pensamento: ele não sabia se os outros pôneis entendiam o propósito do show.
Não era pela Manada de Ponyville: era pela Tropa da Cidade.
Era uma homenagem, um tributo ao seu trabalho. As canções eram deles. A Manada de Ponyville fora concebida como um veículo para recuperar aquelas canções e fazê-las serem lembradas de novo. Os cinco membros da Manada não eram as estrelas do show, e sim meros mensageiros; as canções eram as estrelas.
Porém, do jeito que o show fora divulgado, isso poderia não ficar claro. A julgar pelo cartaz, havia uma nova banda por aí, a Manada de Ponyville, e eles eram cinco pôneis boa pinta prontos pra dominar a cidade com sua música. Sim, o cartaz mencionava em letras garrafais que as canções eram da Tropa, mas será que alguém notava? Será que alguém se importava? Será que Dainty e seus colegas seriam tratados como celebridades, quando esse não era o objetivo? E, se eles fossem, o que Dainty faria?
Esses pensamentos preocupavam-no, e, embora não houvesse muito que ele pudesse fazer, ele sentia o cérebro martelado pela ideia de que, talvez, ele estava querendo tirar proveito do trabalho de outros pôneis.
Era isso mesmo? Ele não sabia dizer.
A banda decidira encontrar-se no teatro algumas horas antes do show para passar o som e ficar preparada. Dainty vestiu-se, ajeitou a crina, e deixou sua casa naquela tarde agradável, rumo ao teatro. Ele trotava confiante, mas também tremia de nervoso. Ele notava alguns olhares curiosos observando-o enquanto ele passava, mas ele tentava não se distrair. Era um dia importante.
Ele foi o primeiro membro a chegar lá. Ele se encontrou com o gerente, enquanto alguns ajudantes de palco preparavam o equipamento. Eles conversaram sobre alguns acertos, tiraram dúvidas, e Dainty ficou no palco para auxiliar as preparações.
Minutos depois, ele viu River Mouth chegando com seu baixo. Ela também estava bem vestida para a ocasião; ela estava bela e vistosa, porém discreta, assim como Dainty.
— E aí, Dainty — ela disse. — Chegamos cedo, então?
— Não, os outros é que estão atrasados — ele brincou. — Bando de bundões.
Os dois riram, e começaram a conversar sobre alguns acertos. Ela pôs seu baixo junto aos amplificadores onde ele seria ligado. Eles falaram sobre algumas coisas variadas, e River, quase por acidente, mencionou que nenhum avanço fora feito para recomeçar o projeto de pesquisa no lago.
— Puxa vida, é mesmo? — Dainty disse. — Nada?
— Não — ela respondeu. — É uma porcaria, né?
— Mas você tentou falar com alguém? Você tentou falar com a Princesa Twilight?
— Ah, Dainty, eu não tinha como fazer isso — River disse, sacudindo a cabeça. — Eu acho que ela não tem poder algum sobre esses assuntos. Tipo, imagina se todo mundo em Ponyville começasse a infernizar ela com problemas que ela não tem nada a ver?
— Bom, foi só uma ideia — Dainty disse. — Eu não sei se poderia dar certo, mas… Mas, sim, eu te entendo. Eu também não teria coragem.
Eles seguiram para outros assuntos, e, em alguns minutos, ele viu Steel Strings chegando. Ele tinha um olhar de espanto no rosto.
— Dainty Tunes! — ele disse, parado aos pés do palco. — Você está lindo!
— Ah, obrigado — ele respondeu, olhando para o chão. — O mérito é da Rarity. Foi ela que fez.
— Ela é maravilhosa, não é? — River disse. — Bela escolha, Dainty.
— Você é que está maravilhoso, Dainty! — Steel disse, subindo no palco. — Sério, eu não tava preparado pra isso.
— Puxa, para de me adular, amor! — Dainty respondeu sorrindo. — Você também está uma graça.
— É, bom, eu fiz o melhor que eu pude. — Steel aproximou-se de Dainty, e quase sussurrou em seu ouvido. — Esta noite, você não me escapa, ouviu bem?
— Steel Strings! — Dainty ralhou, olhando em volta. — Tem pôneis em volta.
— É, eu sei, desculpa — ele respondeu, desajeitado.
River fingiu que estava ocupada com outra coisa, mas riu baixinho.
Hard Fiber e Honey Drop chegaram juntos, já que eles tinham se encontrado na rua. Quando eles se reuniram com a banda no palco, quase tudo já estava pronto. O gerente disse que eles podiam passar o som, e os cinco ficaram prontos. A bateria estava no fundo do palco, sobre uma plataforma, para que Honey Drop ficasse visível. River Mouth e Hard Fiber estariam do lado direito do palco, enquanto Steel Strings ficaria do lado oposto. O piano de armário também estava à esquerda, um pouco afastado da banda, mas não muito. Havia um microfone no centro do palco, e outro junto ao piano, para que Dainty pudesse cantar as músicas nas quais ele tocava. Steel Strings e Hard Fiber também tinham microfones, pois eles faziam alguns vocais de apoio.
Dainty gastou algum tempo para localizar-se no palco, e ver onde seus colegas ficavam em relação a ele. Eles prepararam seus instrumentos e trocaram olhares.
— Então? Que tal tocar Teorema?
— Pra mim tá bom — Fiber respondeu.
Os cinco concordaram, então Dainty disse ao gerente que eles iam começar. Eles entraram na música, enquanto o técnico de som fazia ajustes na mesa. Eles também tocaram Quando o Sol Bater…, e o técnico pediu que eles tocassem alguma música que usasse o piano. Então, Steel Strings foi até lá e tocou Ainda É Cedo.
Dainty estava muito feliz com o som da banda. A energia estava boa, e a execução estava afiada. Quem lhe impressionava bastante era Honey Drop, pois o ritmo estava firme, e ele tocava umas viradas sofisticadas. A bateria estava ótima.
O técnico confirmou que o som estava bom, e eles foram para o camarim. Agora, eles só precisavam preparar-se e esperar.
Eles ainda tinham meia hora até começar o show, e alguém bateu na porta. River Mouth atendeu.
— Olááááá, Manada de Ponyville! — Pinkie Pie disse. — Olá, Honey Drop! Como é que vai o meu melhor aluno?
— Oi, profe! — Honey disse, pulando da cadeira. — Entra, entra! Eu tô ótimo! Isso é demais, e eu tô louco pra subir no palco e mostrar pra todo mundo o que você me ensinou. Eu mal consigo me conter!
— Ah, eu sei como é — ela disse. — E você fez os exercícios que eu passei? Você aqueceu? Alongou os músculos? Você sabe que é importante!
— Sim, Pinkie, sim, eu tava aquecendo agorinha mesmo — ele disse, com disciplina. — Eu levo a sério as suas aulas!
— Eu tô tão feliz que você veio para o show, Pinkie! — Dainty disse. — É uma honra enorme.
— E você acha que eu ia perder a estreia do meu aluno no Teatro de Ponyville? Nem que chovesse canivete! — ela disse, virando-se para ele. — Nem mesmo se chovesse faca! Será que existe canifaca? Pois até isso também! É sério, uma professora precisa sempre estar lá pra incentivar seus alunos e prestigiar seu esforço. E eu inclusive trouxe as minhas amigas!
— Amigas? — Dainty disse, já nervoso. — Ãh, quem, pra ser exato?
— Ora, você sabe: Rainbow Dash, Rarity, Applejack, Fluttershy…
O queixo de Dainty já estava caído só de pensar que os Elementos da Harmonia estariam no teatro, especialmente para vê-los tocar.
— … e a Twilight!
Dainty quase desmaiou.
— Espera, a Princesa Twilight Sparkle está aqui? — River Mouth disse.
— Pinkie, como é que você trouxe a porr— ãh, a Princesa Twilight Sparkle aqui hoje? — Dainty disse, quase desesperado.
Pinkie olhou para ele, o cenho franzido. — Eu convidei ela, é óbvio.
Dainty tinha os olhos vidrados. — Mas ela é uma princesa!! Como é que ela arranjou tempo pra assistir uma banda de rock?
— Bem, ela viu que não tinha nenhum compromisso real marcado para hoje, o que significa que ela estava livre — Pinkie respondeu. — E, ela fez isso por meu pedido especial, porque eu queria incentivar o meu aluno favorito, e, se eu estou aqui, então nada melhor do que ter as minhas amigas junto! Porque, como estamos em seis, isso é seis vezes mais incentivo! E, quando você está seis vezes mais incentivado, você toca seis vezes melhor que o normal! E quem é que não ia querer tocar assim, não é mesmo?
— É, sim, isso é incentivo pra caramba — Dainty disse —, mas, ao mesmo tempo, é uma… ãh, uma baita responsabilidade tocar para uma princesa, sabe. Tipo, será que ela conhece esse tipo de música?
— Ah! Pelo que eu perguntei, ela nunca ouviu falar! — Pinkie disse. — Na verdade, quase nenhuma das meninas conhece essa tal de Tropa da Cidade. Só a Dash conhecia.
— Isso é bom — Dainty disse.
— Ela disse que eles eram uma droga.
Dainty não soube o que dizer.
— Mas, ela quis fazer isso mesmo assim para ajudar uma amiga, então quem sabe ela não gosta? Vai saber, não é? — Pinkie disse. — Quer dizer, vocês são uma ótima banda! Eu acho que todo mundo vai gostar. E, quando eu digo que eu acho, eu quero dizer que eu espero, porque a gente não sabe, não é? E é por isso que é emocionante! Pode ser um enorme sucesso, ou um completo fracasso! E a gente só vai saber quando o show terminar! Isso deve causar um monte de receio! Receio e incerteza! Incerteza e medo! E nós precisamos concentrar esse sentimentos na música! E é isso que vai fazer a música entrar nos corações dos pôneis, e eu sei que vocês conseguem fazer isso, e eu tenho certeza de que todo mundo vai se impressionar! Bom, não certeza, porque eu não sei, mas eu espero que sim! E a esperança é tudo que a gente tem.
Ela olhou em volta, com orgulho de seu discurso, mas os olhares nos rostos da banda não eram tão confiantes.
— Ãh, então — Dainty disse, limpando a garganta e tentando forçar um sorriso —, isso foi, é, bem legal de você, Pinkie! Como você disse, desde que a gente coloque nossos sentimentos na música, a gente vai dar o nosso melhor. E é isso que importa, não?
— Bom, também importa se os outros vão gostar de vocês ou nã—
Ela notou Dainty fazendo-lhe uma careta, apontando para Honey Drop com as sobrancelhas.
Pinkie olhou rapidamente para trás. — Sim, absolutamente. Se vocês derem o melhor de si, isso é o que importa. E eu tenho certeza de que vocês darão o melhor de si. E isso, sim, eu sei!
— Aí sim! — Honey disse. — Ponyville não perde por esperar!
— Isso mesmo — Dainty disse. — Obrigado por trazer suas amigas, Pinkie Pie. A gente fica feliz. Agora, a gente precisa se preparar, então a gente conversa depois do show. Tá bem assim?
— Claro! — ela sorriu, virando-se para Honey Drop. — Continua se exercitando, tá certo? Você vai se sair bem! Vocês todos vão! Boa sorte com o show! Até depois! Tchauzinho!
Com isso, ela desapareceu através da porta. Os cinco músicos trocaram olhares e respiraram fundo.
— É, concentrar os sentimentos — Dainty disse, mais para si mesmo, e sentou-se em sua cadeira.
O tempo passou, e eles ouviam barulhos cada vez mais altos vindo do público do lado de fora. Eles não faziam ideia da lotação da plateia, mas o barulho era alto. Eles continuaram conversando, tentando relaxar.
O gerente abriu a porta e colocou a cabeça para dentro. — Cinco minutos, pôneis!
Dainty, por puro instinto, olhou para o relógio na parede.
— Santa Celéstia — Dainty disse.
A banda esperava nas coxias, enquanto o gerente foi até o microfone no centro do palco.
— Boa noite a todos!
Assim que a voz ecoou pelo teatro, o barulho do público diminuiu. Dainty sentia que seu coração podia saltar do peito a qualquer instante.
— O Teatro de Ponyville tem o orgulho de receber, nesta noite, uma nova atração musical — o gerente prosseguiu. — Formada aqui mesmo, em Ponyville, essa banda juntou-se para tocar as canções de uma banda chamada Tropa da Cidade. Assim, sem mais delongas, recebam a Manada de Ponyville!
O público aplaudiu, e Dainty apertou as pálpebras. Não havia como voltar atrás.
— Vem, querido — Steel sussurrou.
Dainty respirou fundo e adentrou o palco.
Honey Drop entrou segurando as baquetas na boca, com um sorriso largo. Ele ouvia Pinkie Pie gritando palavras de incentivo de seu assento. River Mouth, Hard Fiber e Steel Strings foram para seus lugares e apanharam seus instrumentos. Atrás deles, Dainty Tunes entrou, e foi direto até o microfone.
Ele se virou para encarar o público, e as luzes quase cegaram-no. O público era uma nuvem de rostos, todos os olhos fixos no palco. O local não parecia totalmente lotado, mas estava muito cheio.
— Olá — ele disse, e ouviu a própria voz reverberando nas paredes. — Nós somos a Manada de Ponyville. É com você, Honey Drop!
Ele bateu as baquetas três vezes, e deu um toque certeiro na caixa. E assim, eles começaram. O show havia começado, e a música dominou o corpo de Dainty. Ele se balançava de um lado para o outro junto com o ritmo, e agarrou o suporte do microfone, como se dançasse com ele. Ele levou a boca ao microfone, e a melodia simplesmente saiu.
Dainty encarava o público, mas não enxergava ninguém. Ele apenas sentia a música. Após cantar o verso, ele tentou prestar atenção nos rostos, e viu algumas cabeças balançando junto com a batida.
A música soava alto e claro, cortando o ar como uma lâmina. Dainty quase não reconhecia a própria voz; ela se tornava maior do que ele. Aquele som era inacreditável, e ele tentava apenas ficar concentrado na música, pois, se ele parasse para pensar, pareceria impossível acreditar que eles é quem estavam fazendo aquele som.
Depois de sua nota longa no fim do refrão, Dainty virou-se para olhar para a banda. Todos os seus colegas estavam imersos na música, movendo os corpos e aproveitando o momento. Honey Drop sorria feito criança, e se mexia como se estivesse dançando. Steel Strings não tirava os olhos de Dainty.
Sem perder a deixa, Dainty virou-se para cantar o próximo verso, e teve a impressão de que o público estava recebendo bem a música. Ao longe, ele via alguns pôneis que dançavam bastante em suas cadeiras e balançavam os cascos no ar. As palavras saiam plenas e cheias da garganta de Dainty, e ele começava a explorar o palco, fazendo gestos, apontando para o público, erguendo um casco para o céu, como se desafiasse o mundo a tentar não escutá-lo.
Perto do fim da música, Steel Strings cantou o vocal de apoio, em harmonia com Dainty, e a canção pareceu explodir. Em seu ápice, ela terminou, e o acorde final soou pelo ar, até ser coberto pelo aplauso.
— Obrigado! — Dainty disse, e virou-se para a banda: eles estavam elétricos.
Eles trocaram um breve sinal, e Steel Strings tocou os primeiros acordes de Quase Sem Querer. Assim que Honey Drop entrou junto com o ritmo, Dainty sentiu que ele podia apenas ficar ali, escutando aquele som. A banda era mágica. Porém, ele tinha uma letra para cantar, então ele se concentrou no microfone e cantou, como se conversasse com o público.
A letra ia saindo, e Dainty cantava-a como se ela fosse parte de si. Hard Fiber tocava seus arpejos com gosto, vendo que o público estava prestando total atenção. River Mouth sacudia o corpo, balançando a cabeça e sentindo a levada em cada músculo, às vezes trocando olhares com Honey Drop, como se tivesse uma ligação física com ele. Steel Strings tocava com o coração entregue, sentindo cada acorde, cada nota que vibrava. Honey Drop tocava sua bateria como se quisesse sacudir as paredes do prédio.
Assim que Dainty terminou de cantar, ele se virou e começou a balançar o corpo e interagir com a banda, dançando com eles e gesticulando, como se estivesse regendo-os. Eles gradualmente conduziram a música até o seu fim, e Dainty ficou ali, ofegante, até o aplauso emergir com força. Ele ouviu gritos e assobios do público, e casualmente voltou para o microfone a trote.
— Obrigado a todos! — ele disse, esperando o aplauso diminuir um pouco. — Como vocês ouviram antes, essas canções que estamos tocando são de uma banda chamada Tropa da Cidade. Eles existiram há muito tempo, e escreveram todas essas canções que vocês vão ouvir. Nós formamos essa banda para homenageá-los, e esperamos que vocês gostem. A primeira música se chamou Será, que é do seu primeiro disco, e essa agora foi Quase Sem Querer. A próxima canção fala de seguir em frente e não desistir, e ser corajoso quando o momento é difícil. — Ele deu um sorriso seco. — Pelo menos eu acho que é sobre isso.
Ele ouviu algumas risadas do público, e ficou aliviado que a piada funcionou.
— Manda ver, Steel!
Steel Strings tocou os primeiros acordes de Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto, e a mágica recomeçou. A canção era mais lenta e mais suave do que as anteriores, mas mesmo assim faiscava, e, a menos que Dainty estivesse muito enganado, o público estava gostando cada vez mais.
Para a música seguinte, Ainda É Cedo, Steel Strings largou o violão e foi para o piano, e o ritmo pulsante e sólido ficou muito mais forte naquela sala imensa, e o público parecia hipnotizado. Depois que os vocais terminaram, Dainty convidou o público a bater os cascos junto com o ritmo, e ficou divertindo-se pelo palco. Ele se juntou a Steel Strings no piano por um momento, e ficou gesticulando para a banda tocar por mais tempo do que o normal, pois o público parecia estar gostando ainda.
Ao finalmente conduzir a banda a terminar a música, o aplauso encheu a sala. Dainty e Steel trocaram um olhar doce, antes de Steel voltar para o violão.
— Steel Strings no piano! — ele disse, e ouviu o aplauso crescer de novo enquanto ele se sentava ao piano para as próximas canções.
Ficar no piano era conveniente para Dainty descansar um pouco, pois toda aquela movimentação pelo palco fora mais intensa do que ele imaginou que seria. Eles tocaram mais duas músicas, e Dainty preparou-se para a canção Fábrica, quando algo lhe ocorreu.
Ele se inclinou em direção à banda. — Ei, River Mouth! — ele falou longe do microfone. — Qual é o nome daquele lago onde você estava trabalhando?
Ela olhou para ele, com certa perplexidade. — Ãh, é o lago Tranquility, Dainty. Por quê?
— Deixa comigo — Dainty disse.
Ele começou a improvisar alguns acordes no piano, e começou a falar. — Sabem, lembrei de uma porção de coisas que estão acontecendo — ele disse por cima de seu improviso. — Essa próxima música que a gente vai tocar, ela fala de… de como nós fazemos coisas que podem transformar o meio-ambiente, o mundo em que a gente vive, às vezes pra melhor, mas às vezes pra pior.
Os acordes e melodias que ele tocava pareciam refletir a intenção de suas palavras. A banda assistia a ele em silêncio, e Hard Fiber aproveitou para afinar a guitarra.
— E há alguns pôneis por aí fazendo um esforço tremendo pra preservar a beleza do nosso mundo, e nós temos um desses pôneis bem aqui, no palco. O nome dela é River Mouth, e ela é a nossa baixista, ali.
River deu um aceno tímido, em resposta ao aplauso.
— Ela trabalhou nos últimos meses na preservação de um lugar lindo, lindo, chamado Lago Tranquility. Ultimamente, esse lugar se tornou ameaçado por uma praga devastadora, que pode destruir a fauna e a flora. Infelizmente, o projeto perdeu a verba, e River Mouth e seus colegas não conseguiram terminar o trabalho! Pode isso, gente? — ele disse, virando a cabeça para o público. — Será que tem coisas tão mais importantes pra investir do que preservar nosso mundo? E agora, se esse projeto não recuperar a verba, a beleza do Lago Tranquility pode ser perdida para sempre.
Ele tocou alguns acordes dramáticos, antes de retornar a algo mais quieto. — Então, para esses pôneis por aí que têm dinheiro, mas não se importam com a natureza de Equéstria, nós dedicamos esta música. Para os pôneis que colocam a ganância acima do nosso futuro, nós cantamos esta canção. Ela se chama Fábrica.
Dainty fez um gesto para Hard Fiber tocar o riff inicial, e a banda gradualmente foi entrando. River Mouth, incentivada pelo discurso, tocou com força, quase raiva, fazendo a canção ferver naquela sala. Dainty cantava com as entranhas, e Honey Drop pegou mais pesado nos pratos e nos tom-tons do que nos ensaios. Quando a canção terminou, a banda estava até um pouco cansada, mas satisfeita.
Dainty levantou-se do piano e voltou até o microfone no centro, e o show prosseguiu. Ele continuou falando com o público entre as canções, volta e meia reforçando a importância da Tropa da Cidade e seus membros. Ele notou que a banda fazia pequenos improvisos que eles não costumavam fazer. As linhas de guitarra de Hard Fiber estavam mais coloridas do que o normal, e os rolos e viradas de Honey Drop às vezes deixavam Dainty aturdido com sua complexidade.
Quando ele percebeu, a banda já tinha chegado nas últimas quatro músicas do set. Em sua mente, parecia que apenas quinze minutos haviam passado. O tempo voara diante de seus olhos.
Ele foi até o piano, para tocar Vinte e Nove, e começou a improvisar de novo.
— Antes da próxima música, eu queria contar uma história — ele disse. — É a história de um pônei, que, pelo poder do acaso, conheceu uma banda. Uma banda da qual ele nunca tinha ouvido falar. Ele teve que ir até Manehattan para escutá-la, encontrar seus discos. E, assim que ele encontrou os discos, e colocou eles pra tocar, ele ficou… apaixonado. Hipnotizado. Pelo poder daqueles sons, das melodias, das letras, dos ritmos, seu mundo… tinha mudado.
Ele olhou para o público, pra ter certeza de que eles ainda estavam acompanhando.
— A banda se tornou parte da vida dele. Mas só escutar… não bastava. Ele queria mais do que isso. Ele tinha que… montar uma banda. — Ele tocou um floreio no piano. — Acho que já dá pra ver que esse pônei sou eu. E, às vezes eu penso que vocês podiam vir e me perguntar, pra que montar uma banda? Qual o motivo de fazer tudo isso, gastar todo esse tempo, só por causa de uma banda? E a resposta é… que eu não preciso de um motivo. A música me obriga a isso. A música tem um poder sobre mim, e… e eu não sei o que eu faria sem ela. A música é uma extensão de mim mesmo, é o motivo de eu estar neste mundo.
Ele tocou mais alguns acordes, e Steel Strings notou que ele estava preparando a próxima canção.
— O pônei que me apresentou a Tropa da Cidade é o Sr. Steel Strings, aqui — ele disse, apontando para ele. Steel rapidamente curvou-se em resposta ao aplauso. — E, quando eu estava em Manehattan, a primeira música do primeiro disco que eu escutei foi exatamente esta. É uma música especial para mim, e ela se chama Vinte e Nove.
Dainty sustentou um acorde dominante, e fez um gesto para Honey fazer a contagem, e o acorde levou direto para a canção. Ele não conteve um sorriso ao ouvir Honey tocar o ritmo perfeitamente, um ritmo que causara tantos problemas. Por um momento, ele foi transportado de volta àquele quarto de hotel, onde ele ficou sentado diante do toca-discos, e o som daquela canção deixou-o embasbacado. E agora, ele estava no palco, e a música estava acontecendo ao redor dele.
Ele abriu a boca e cantou. Sua voz tremeu. Ele estava quase em lágrimas. Ele respirou fundo e tentou concentrar-se para o segundo verso, e assim foi até o fim. A música mudou de tom, Honey fez sua virada na bateria, e a música disparou em sua parte final. A banda entregou tudo que tinha, e a música era implacável. Dainty improvisou vocalizações, e a música seguiu forte, até Dainty sentir que já era o bastante, e gesticulou para eles concluírem com um acorde final.
Ele voltou para o centro para a canção Teorema, e podia ver os pôneis balançando em seus assentos, sacudindo o corpo e balançando a cabeça. Eles estavam aproveitando o momento, e Dainty estava um pouco triste de estar perto do fim. Na próxima canção, Esperando por Mim, Dainty ficou desejando que aquele final instrumental durasse para sempre. Ele não queria perder aquela energia.
Assim que o aplauso começou a diminuir, ele se aproximou do microfone de novo. — Assim, chegamos à nossa última música. E essa também é uma música especial, porque foi com ela que eu conheci a banda, então ela sempre vai ter um lugar especial no meu coração. Eu queria agradecer a cada um de vocês por ter vindo hoje, ao Teatro de Ponyville por tornar tudo isso possível, ao Sharp Focus por tirar nossas fotos e fazer nossos cartazes, e, é claro, ao Shimmering Chord, Rocky Rumble, Cymbal Crash e Deep Voice, que fizeram todas essas músicas que vocês ouviram hoje. Essa aqui se chama Tempo Perdido.
Hard Fiber tocou os arpejos iniciais, e a banda entrou naquela música final. Dainty cantou com tudo, e acabou lembrando-se de todos aqueles ensaios, todo o esforço que eles dedicaram, todos os problemas que eles enfrentaram para tornar aquilo possível. Ele pôs tudo isso na canção, e, assim que a última nota ressoou, ele estava ofegante.
O aplauso preencheu a sala. Dainty sentiu o coração palpitar.
A banda ficou assistindo a reação dos pôneis diante deles, sacudindo lenços e assobiando. Dainty sorria, e chamou o resto da banda para ficar junto a ele.
— Steel Strings no violão! Hard Fiber na guitarra! River Mouth no baixo! Honey Drop na bateria! E eu, Dainty Tunes, nos vocais e piano. Nós somos a Manada de Ponyville, muito obrigado!
Eles se curvaram, enquanto o aplauso cresceu. Dainty sentiu que podia ficar ali para sempre, mas, enfim, a banda saiu do palco, e ficou nas coxias enquanto o barulho continuava.
— Gente, isso foi lindo! — Honey Drop disse, quase saltitando. — Escutem isso!
— Na verdade, eu acho que eles estão pedindo bis — River Mouth disse, prestando atenção aos sons.
Os olhos de Hard Fiber arregalaram-se. — Ah, caramba! A gente não preparou um bis, né?
Dainty ficou constrangido. — Eu… tinha esquecido disso completamente.
— A gente não pode deixar eles esperando, gente — Steel Strings disse. — De repente a gente repete uma das músicas.
— Espera — Dainty disse, com uma ideia na cabeça. — Ãh, tudo bem se eu for lá e tocar uma música sozinho? Eu sei que a gente não combinou isso, mas acho que pode resolver.
Os outros quatro trocaram olhares, e viraram o rosto para dar a Dainty um olhar de aprovação.
— Claro, vai lá — River disse.
— Certo! — ele respondeu, e voltou a trote para o palco.
Ele foi até o piano, enquanto o aplauso cresceu. Ao sentar-se, o ruído diminuiu, e ele começou a tocar algumas notas, aparentemente improvisadas. Aos poucos, ela se tornou uma canção. Steel Strings reconheceu: era Por Enquanto, e ele sabia que Dainty a amava. Ele tocou apenas a harmonia por um momento, e, quando abriu a boca para cantar, sua voz era suave, doce, gentil. Steel não conteve as lágrimas. River Mouth pôs o casco em seu ombro, sorrindo.
Dainty conduziu a canção para um final delicado e suave, e deixou o acorde final ressoar. O público aplaudiu de novo, e ele se levantou do banco, gesticulando para a banda vir com ele.
Eles ficaram diante do público de novo e curvaram-se.
— Eu acho que eles querem mais uma, Dainty — River Mouth disse.
— Gente, que tal tocar aquela música que a gente inventou aqui na minha audição? — Honey Drop disse.
Dainty franziu a testa. — Sério? Aquilo foi um improviso bobo, Honey, não é uma música de verdade.
— Não, vamos fazer! — Hard Fiber disse. — Vai ser legal!
— Bom, eu vou ficar do lado deles nessa, Dainty — Steel disse, atrevido. — A gente tá na maioria.
Dainty sorriu. — Tá bom, então, vamos lá.
Eles voltaram para seus instrumentos, e Dainty sentou-se ao piano. Eles fizeram alguns acertos, e Dainty pediu que River começasse com a linha de baixo. Honey Drop entrou no chimbal, como ele havia feito na primeira vez.
— Sabem — Dainty disse no microfone —, o nosso baterista, Honey Drop, entrou na banda aqui mesmo, neste palco. Ele veio na nossa audição, e, como a gente tinha tempo, a gente começou a tocar umas coisas, assim… só no improviso. E era assim.
Steel Strings tocou alguns acordes, e Honey começou a tocar a caixa.
— E a gente foi indo, e nosso improviso começou a virar uma canção, se é que dá pra acreditar.
Hard Fiber começou a fazer algumas linhas na guitarra, e Dainty aderiu ao piano. Honey Drop então começou a tocar a batida inteira, e Dainty sorriu, imaginando o que ele iria cantar.
— E então, quando a música ficou assim, eu comecei a cantar umas coisas que me vieram à cabeça. Mais ou menos assim:
A minha banda e eu
Estamos só improvisando
A minha banda e eu
Honey Drop sorriu enquanto tocava, e ficava trocando olhares com seus colegas, notando o quanto eles estavam divertindo-se.
Fazendo um show!
E esse público é tão legal
A gente ama vocês!
O público reagiu, e Dainty riu-se.
— A gente tem que afagar o ego dos fãs, não é? — ele brincou.
E a gente queria mais
E nós queremos voltar aqui
Estar aqui é demais!
Dainty fez um gesto para a banda aumentar a intensidade.
Que a gente já viu
Agora olha só, escuta só
É a Manada de Ponyville!
Enquanto Dainty repetia os últimos versos, a banda começou a cantar junto nos microfones, e a cantoria foi aumentando.
— Cantem comigo, todo mundo! — Dainty disse, ouvindo alguns pôneis na plateia responderem.
Ele tirou os cascos do piano e começou a batê-los, incentivando o público a bater os cascos e cantar a música. Depois de algumas repetições, quase o público inteiro estava cantando.
É a Manada de Ponyville!
— Vocês todos são a Manada de Ponyville! Vamos lá!
Danity voltou ao piano, e começou a trocar frases com Hard Fiber, que foi até o piano enquanto o público cantava e batia os cascos. Honey Drop não tinha um microfone para ele, mas ele cantava junto mesmo assim.
A música prosseguiu, até que Dainty anunciou — mais uma vez! — O público cantou os versos, e Dainty ergueu um casco para a banda parar:
É a Manada de Ponyville!
Antes que Dainty pudesse sinalizar o acorde final, Honey Drop tocou uma virada longa e complicada, e segurou as baquetas no alto. Eles atacaram o acorde final, segurando-o por um longo tempo, enquanto o público aplaudia. Dainty fez um glissando no piano ,e a música terminou.
A banda voltou à beira do palco, onde recebeu os aplausos e curvou-se. Ao saírem do palco, os cinco notaram que o público estava satisfeito, e começou a sair dos assentos. O show havia terminado, e o corpo de Dainty estava elétrico.
Eles ficaram nos bastidores, quando o gerente veio para parabenizá-los.
— Foi maravilhoso! — ele disse, entusiasmado. — Maravilhoso! O público adorou! Meus parabéns, foi um show esplêndido.
— A gente adorou tocar também! — Honey Drop disse, sem conseguir conter o entusiasmo. — Foi demais.
— Foi mesmo. Muito obrigado por nos dar essa oportunidade — Dainty disse.
— Foi um prazer! Nós devíamos fazer isso de novo, na verdade. Nós podemos marcar algumas outras datas, se vocês quiserem. Mas agora, eu vou deixar os outros pôneis virem para cumprimentar vocês.
— Ah, legal! — Steel disse. — Eu acho que os meus pais querem vir pra falar comigo.
O gerente virou-se para sair, e, de fato, Steel Strings viu seus pais chegando.
— Oi, mãe! Pai! — ele disse, com um surto de alegria que Dainty nunca havia visto. — Que bom que vocês vieram!
— Mas claro que viemos! — sua mãe disse. Ela tinha uma pelagem marrom clara e uma crina escura e curta. O pai tinha uma crina grisalha e levemente crespa, e uma pelagem púrpura. — Nós não perderíamos isso por nada.
— Foi muito bom, filho — o pai disse. — Estamos orgulhosos.
— Ah, obrigado, vocês são sempre tão bons comigo — Steel disse, virando-se para a banda. — Aqui, deixa eu apresentar vocês pros outros! Esse é o Dainty Tunes, o pônei que juntou todo mundo.
— Boa noite a vocês — Dainty disse. — É um prazer conhecer vocês!
— O prazer é nosso, Sr. Tunes — a mãe disse.
Steel prosseguiu apresentando os outros, e Dainty notou os pais de Honey Drop chegando.
— Mãe! Pai! Aqui! — Honey disse, depois de cumprimentar os pais de Steel. — Obrigado por virem! Eu tô tão feliz!
— A gente viu, filho — o pai disse. — Você estava muito bem.
— Sim, talvez a música foi um pouco alta, mas você estava ótimo, Honey Drop — a mãe disse.
— Mãe, pai, obrigado mesmo por acreditarem em mim. Esse foi o melhor dia da minha vida, e não teria sido se não fosse por vocês.
— Bom saber, filho — o pai disse. — Você provou que consegue cumprir as suas responsabilidades e também ser músico. Você tem nosso apoio se quiser continuar.
— Ah, mas é claro que eu quero! — Honey respondeu prontamente. — Tipo, eu já quero fazer isso de novo!
Dainty sorriu ao ouvir a conversa, e notou a família de Hard Fiber chegando.
— Mãe! Pai! Macramê! — Fiber comemorou. — Que bom ver vocês aqui!
— Eu tô tão feliz, filho! — a mãe dele disse, emocionada. — Foi lindo. Você foi maravilhoso.
— Ah, obrigado, mãe — ele disse, encabulado. — E você, meu camarada? — ele disse, baixando a cabeça para olhar o irmão nos olhos. — Você gostou?
— Eu nunca vi ele tão calmo, filho — o pai disse. — Ele não tirou os olhos do palco. Eu acho que ele nunca esteve tão feliz.
Dainty notou que Fiber estava comovido com isso, e sorriu.
— Eu tô feliz que você veio me ver, ouviu, irmão? — Fiber disse, afagando a sua cabeça. — Eu te amo, amigão.
Dainty virou para o lado e viu Sharp Focus aproximando-se.
— E aí, gente! Que baita show! — ele disse, com um sorriso meio tímido. — Foi bom demais.
— Que legal ver você aqui, Focus! — Hard Fiber disse. — Obrigado por vir!
— Como se eu fosse perder essa! — Focus respondeu.
— É bom ver você aqui — Steel disse. — A gente agradece todo o trabalho que você fez pra gente. Você ajudou a deixar o teatro tão cheio hoje.
— É, acho que sim — ele respondeu. — Eu tô feliz com o meu trabalho, mas eu tô feliz por vocês também. Pelo visto, a gente é uma boa equipe! — Ele riu.
— A gente é sim, Focus — Fiber disse.
Focus, então, aproximou-se de Dainty e Steel. — Por sinal, eu queria fazer uma coisa — ele disse, enquanto algo que flutuava atrás dele foi até Dainty. — Isso aqui é um presente pra vocês. Eu tirei ela naquele sábado, sem vocês perceberem, e eu acho que ficou bonita.
Dainty segurava um porta-retrato, com uma foto de Dainty e Steel, tocando os rostos. Steel sorriu e quase derreteu.
— Que lindo, Focus! Eu adorei — Steel disse.
— Sim, ficou lindo — Dainty disse, comovido. — Obrigado pelo presente, é uma gentileza de sua parte.
— Não foi nada, rapazes — ele disse, rindo. — Que bom que gostaram.
— Pode guardar junto com as nossas coisas no camarim, amor? — Dainty disse.
— Claro, querido — Steel respondeu, saindo a trote com o porta-retrato entre os dentes.
Sharp Focus ficou por ali, e Dainty notou River Mouth conversando com uma égua, que ele pensou ser a amiga que trabalhava no teatro. Então, duas éguas correram até Honey Drop para cumprimentá-lo—ele se lembrou que elas eram as éguas que conversaram com ele quando eles estavam colando os cartazes. Então, mais longe, ele viu seus colegas de trabalho acenando.
— Iron Bolt! Jack Hammer! Vocês vieram! — ele gritou, alegre.
— Claro que sim, cara! — Jack Hammer disse, chegando mais perto. — A gente não ia perder a sua grande estreia, né?
— Ah, obrigado mesmo, gente! Tomara que vocês tenham gostado — Dainty respondeu.
— A gente gostou, sim — Iron Bolt disse —, e a gente tem que festejar lá no Bamboo Pub algum dia. Que tal?
— Claro! — Dainty respondeu, mas pausou. — Bom, se é que eles me querem lá, né…
— Ah, eles vão ter que querer — Iron respondeu. — Você é uma celebridade.
Dainty deu um sorriso travesso. — Bom, claro. Enfim, obrigado de novo.
— Sem problema! — Jack Hammer disse, virando-se para sair, e quase esbarrando em um pônei rosa saltitante.
— Oh, desculpe, desculpe! — ela disse, os olhos dela virando-se para a banda. — Honey Drop! Você foi demaaaaaaais!
Honey olhou para ela. — Pinkie Pìe! Obrigado!
— Não, sério, gente, foi inacreditável — ela disse, com seu fôlego aparentemente infinito —, e todo mundo adorou, que nem eu disse que seria! Lembra? Bom, eu disse que eu esperava que eles gostassem, e eles gostaram! Eles bateram os cascos e gritaram e cantaram junto! E é porque vocês foram super incríveis e a música foi ainda mais super incrível! Eu estou tão orgulhosa, Honey Drop!
Dainty quase sentiu o coração parar ao ver os outros Elementos da Harmonia aproximando-se. A Princesa Twilight estava bem no centro, com Spike logo atrás. Pinkie fez uma pausa, e olhou para o lado.
— Ah, e meus amigos estão aqui também! Eles vieram dar um alô!
A banda, surpresa, levou um momento até curvar-se.
— Princesa Twilight! — Dainty disse, quase sem acreditar em suas palavras. — É… é uma honra receber Vossa Alteza aqui hoje! Eu… eu não… não fazia ideia que você se importaria de ver uma… uma banda de rock, sabe…
— Mas claro que eu me importo! — ela respondeu, com uma serenidade que quase deixava-o ainda mais nervoso. — Vocês são uma nova atração musical de nossa Ponyville, fazendo sua estreia no teatro, e é importante para uma princesa incentivar a arte e a cultura de membros da população, como vocês. Foi um prazer, acredite.
— Foi um show bão di verdade — Applejack disse —, mesmo que eu num seja lá do meu estilo, mas deu pra si balançá um bocado. Até a minha empregada lá gostô bastante.
Dainty notou Meteorite Shower acenando e sorrindo de longe. — Vocês arrasaram! — ela gritou.
— Foi uma noite esplendorosa, queridos! — Rarity proclamou. — Vocês foram feitos para o palco! Vocês prenderam nossos olhos e ouvidos da primeira à última nota.
— Sim — Fluttershy complementou. — Estava lindo.
— Vocês só podiam ter escolhido uma banda melhor pra tocar! — Rainbow Dash disse.
Dainty tentou não rir.
— Rainbow dash! — as outras ralharam em uníssono..
— O quê? Mas eles foram bons! — ela se defendeu.
— Tudo bem, Dash, não se preocupa, você não precisa gostar da Tropa — Dainty disse, gentil. — Eu fico grato que vocês tiraram seu tempo para vir nos assistir. Foi… foi uma honra.
— Não tem de que — Spike casualmente respondeu. — Vocês são legais!
— Eu confesso, eu não esperava receber uma princesa no nosso primeiro show — Honey disse. — Foi o máximo!
— A propósito, antes de ir, eu gostaria de trocar uma palavra com você, River Mouth — Twilight disse —, se você puder.
River encarou-a sem reação por um momento. — Comigo?
— Sim — Twilight disse, dando um passo na direção dela, enquanto os outros abriram espaço. — Eu ouvi o que Dainty Tunes disse sobre o seu trabalho no lago, e eu queria dizer que você tem meu total apoio para recuperar a verba.
River Mouth estremeceu. — Sério?
— Naturalmente, eu não posso dar garantias, mas o mínimo que eu posso fazer é usar minha influência para gerar interesse dos pôneis que têm dinheiro. Afinal, esse é um problema que afeta a todos, e nós devemos nos esforçar para cuidar de Equéstria.
— Ah… ah, puxa, obrigado, Princesa Twilight! — ela disse, curvando-se. — Obrigado, Vossa Alteza! Isso significa muito pra mim!
Dainty escutava a conversa, e sentiu uma ponta de orgulho por ter ajudado.
— Ah, eu acho que aqueles garanhões ali atrás querem conversar com vocês! — Pinkie Pie disse —, talvez? Eu acho que sim!
Dainty casualmente virou-se, e viu três pôneis parados.
Suas pernas amoleceram.
O resto da banda virou-se para olhar também, e, por um momento, eles não sabiam o que estava acontecendo. Honey Drop teve a impressão de reconhecer aqueles rostos, mas aquilo não podia estar certo. Não fazia sentido.
Para Dainty, porém, estava claro como o dia.
— Então, que belo show que vocês deram — Shimmering Chord disse.
Enquanto Dainty tentava respirar, Hard Fiber foi o primeiro que ousou falar. — Vocês… vocês são a Tropa da Cidade? Ou parte dela, pelo menos?
— Até onde eu sei, nós somos — Cymbal Crash disse, sorrindo casualmente.
— Mas como vocês vieram? — Dainty disse, quase descrente. — Quer dizer, com tão pouco tempo? Como vocês… Como?
— Bom, as notícias se espalham — Shimmering Chord disse. — Desde que vocês fizeram aquele outro show, a notícia chegou em alguém lá em Manehattan, e no fim chegou em mim. Aí, eu avisei os outros caras. E aqui estamos.
— A gente não ia perder de ver nossas músicas tocadas ao vivo — Rocky Rumble disse —, depois de tanto tempo.
— E vocês impressionaram — Cymbal Crash disse. — Vocês tocaram praticamente do jeito que a gente costumava tocar. Vocês se empenharam.
— Claro, a gente ensaiou pra caralho! — Honey Drop disse. — Tinha que ficar bom, né?
— Eu vou dizer, Dainty Tunes — Shimmering Chord disse —, quando você falou comigo, e perguntou se podia tocar as músicas, eu imaginei que você se juntaria com um ou dois pôneis, aprenderia meia dúzia de músicas, só pra se divertir. Eu não imaginei que vocês montariam um show de verdade, com uma banda completa. Vocês foram até o fim, todos os cinco. Vocês estão de parabéns.
— Eu preciso falar uma coisa — Dainty disse, com urgência —, esse show foi todo pra vocês. Isso tudo foi para homenagear vocês, e o Deep Voice, onde quer que ele esteja. Isso jamais teria acontecido, eu nunca… eu nunca teria feito isso tudo… eu não teria uma banda, esses caras aqui, se não fosse por vocês. Obrigado. Obrigado pelas músicas, obrigado por confiar em mim… eu… Eu serei grato para sempre.
Steel Strings pôs um casco no ombro dele. — Eu digo o mesmo. Obrigado a vocês, e ao Deep Voice, por tudo.
— As músicas são demais! — Honey Drop disse. — Vocês são demais!
— Sim, eu tô feliz de ter entrado nesta banda — Hard Fiber disse —, e é graças a vocês.
— Idem — River Mouth disse. — Nossas vidas são melhores por causa de vocês.
— É por isso que a gente faz música, não é? — Cymbal Crash disse. — Esse é o propósito.
— Vocês vão continuar com a banda, não? — Rocky Rumble disse. — Não foi uma coisa de uma noite só, né?
— Claro que não! — Dainty disse. — A gente quer mais!
— Sim, continuem — Shimmering Chord disse. — E fiquem de olho. Vocês não sabem se, algum dia desses, quem sabe, vocês não recebem um convite pra tocar em algum lugar em Manehattan… Não que isso vá acontecer com certeza, mas talvez possa.
Dainty arregalou os olhos. Ele teve cuidado de não prender-se muito a esperanças passageiras, mas aquilo era surpreendente. — Bom, isso seria ótimo!
— Pode crer — Cymbal Crash disse, antes dos três acenarem com a cabeça e irem embora.
Quase sem fôlego, Dainty virou-se para os seus colegas.
— Bom, depois dessa, a gente precisa sair pra comemorar, né? — Honey Drop disse.
Dainty Tunes riu-se, aliviado que alguém amenizou o clima, pois ele provavelmente teria caído no choro.
— Claro — ele disse. — Vamos guardar os instrumentos lá em casa e ir pra algum lugar!
Honey Drop casualmente olhou para as duas éguas, que estavam ao seu lado. — Elas podem vir junto?
Dainty deu um sorriso cúmplice. — Claro que podem.
Coda: Por Enquanto
Estava frio. O Inverno chegara, e Dainty mexia as patas para ficar aquecido.
— Tá nervoso, querido? — Steel Strings disse.
— Um pouco — Dainty disse, olhando para os dois lados dos trilhos.
A Manada de Ponyville aguardava na estação de trem, seus instrumentos e bagagens em carrinhos. Os pais de Honey Drop, bem como os pais de Steel e a mãe de Hard Fiber estavam ali para despedirem-se. Honey Drop estava acompanhado pela égua de pelagem esverdeada, que agora era sua namorada.
— Eu queria tanto que vocês pudessem vir junto! — Honey disse aos seus pais. — Imagina nós trotando por Manehattan, conhecendo aqueles lugares todos? Seria tão legal.
— Não se preocupa, mãe, eu vou me cuidar — Fiber disse para sua mãe. — A gente provavelmente vai ficar junto quase todo o tempo, então não vai ter perigo.
River Mouth respirou satisfeita. No fim, era um pequeno milagre que todos eles fariam aquela viagem. Dainty entrou em acordo com seu patrão, e River teve que falar com a professora coordenadora do projeto, o qual havia recomeçado há mais de um mês. Tudo tinha dado certo.
— É louco pensar — Dainty disse —, a gente começou há tão pouco tempo, e agora… olha só pra nós.
— É, eu sei — Steel disse. — É incrível. E vai ficar melhor, Dainty, pode acreditar.
— Desde que você esteja comigo, meu amor, eu sei que vai.
Eles sorriram, e Dainty teve a impressão de ouvir o trem ao longe. Os pôneis na plataforma começaram a levantar-se. Honey Drop, Hard Fiber e Steel Strings abraçaram seus familiares e fizeram suas despedidas.
O coração de Dainty bateu mais forte quando o trem parou diante deles.
In memoriam Renato Rocha e Renato Russo
Força sempre