sexta-feira, 4 de junho de 2021

Pinkie e o Sem Cérebro (fanfiction)

Este conto é um fanfiction da série My Little Pony: Friendship Is Magic, de propriedade da Hasbro.

 

Ela pediu que elas fossem “discretas”. Vinda de Pinkie Pie, tal ordem era difícil de obedecer.

Ainda assim, elas percorriam a floresta, fazendo esforço para não perguntar por que; afinal, elas descobririam em breve, então que diferença faria? Enquanto elas prosseguiam, Applejack não conseguia deixar de notar que Pinkie navegava as curvas e dobras da floresta como se ela improvisasse o caminho na hora, ou como se a floresta abrisse tais caminhos de acordo com os caprichos dela. Twilight Sparkle prosseguia logo atrás de Pinkie, e as outras seguiam em fila, com Rainbow Dash por último, observando a todas. Rarity preocupava-se com os galhos que ameaçavam prender-se a sua crina, enquanto Fluttershy torcia que elas chegassem ao seu destino o quanto antes, pois o silêncio e a escuridão de seus arredores deixavam-na desconcertada.

E agora, elas encontram-se bem ali, na entrada de uma caverna.

— Vamos lá! Sigam-me! — ela sussurra alto.

Twilight, quase por instinto, lança uma luz mágica, e elas caminham devagar, ouvindo a reverberação de seus cascos contra o chão rochoso. Pinkie lidera, seu rosto determinado oculto das outras. Twilight tem a ânsia de perguntar o que as espera, mas ela se contém.

Enquanto elas se aproximam de uma curva, elas veem um pouco de luz vindo por trás da quina. Pinkie dá uns passos rápidos adiante, e finalmente vira-se para as outras.

— Lá está ele! Vejam!

As outras cinco pôneis fazem a curva, mas ainda é escuro demais para distinguir o que está lá, apesar das velas que cintilam debilmente no ar úmido da caverna. Applejack é a primeira a ver algo estranho. De início, ela não crê, mas ele está lá: um pônei da terra, vendado e amordaçado, amarrado a uma cadeira. Ele começa a debater-se, provavelmente porque ouve a presença delas, sua pelagem cinza-clara-quase-branca refletindo a luz das velas e da magia de Twilight; sua crina castanha, grossa e crespa, trepidando com seus movimentos.

Os olhos das cinco pôneis arregalam-se em sequência, e elas finalmente sobressaltam-se.

— Pinkie! — Twilight diz, sua voz alta repicando nas paredes. — O que é isso?

— Calma, meninas, calma! Eu posso explicar tudo! — Pinkie responde, seus olhos cerrados, a pata direita erguida com convicção.

— Uai, ocê… cê num sequestrô esse pônei aí, né? — Applejack diz.

— Bem, eu trouxe ele aqui, não exatamente com a permissão dele — Pinkie responde, segurando o queixo, ponderando os fatos. — Mas sequestrar? Isso seria terrível!

Fluttershy sentiu um aperto no estômago. Ela conseguia ouvir o pônei gemendo na cadeira.

— Pinkie, isso é péssimo! — Twilight retruca, seu chifre cintilando com uma mágica nova. — A gente não pode deixar ele assim!

— Não, não! Não faça isso! — Pinkie grita, pulando na frente do pônei, as patas dianteiras estendidas, como se isso pudesse bloquear a mágica. — Isso seria um erro gravíssimo!

— O que poderia ser mais grave do que amarrar um pobre pônei inocente em uma caverna isolada, e trazer-nas aqui para assistir? — Rarity diz. A dignidade em sua voz dava quase um glamour àquela cena.

— Inocente? — Pinkie franze o cenho. — Moças! É isso que eu tô tentando dizer! Aquele pônei — ela disse, apontando —, não é um pônei qualquer! Aquilo… é uma auto-inserção!”

O jeito que Pinkie diz isso dá a impressão de que ela vê uma câmera dando um close dramático no rosto dela.

Os outros pôneis piscam os olhos, em silêncio.

— Uma o quê? — Fluttershy diz.

— Auto-inserção? — Rainbow Dash diz. — Eu nunca ouvi falar nisso antes!

— Ocê pode explicá pra nós, Pinkie? — AJ diz.

— Vocês não sabem o que é isso? — Pinkie Pie diz, em real descrença. — Bem! Eu não sei exatamente de onde essas coisas vêm, mas, todas as vezes que eu encontrei algum, eles estavam aqui para aprontar! Eles vêm do nada, agem de forma estranha, dizem coisas estranhas, todo pônei parece cair de amores por eles, e, eu não sei como, mas eles fazem os pôneis agirem esquisito! Eles dão medo!

O pônei atrás dela parece gemer mais alto agora.

— Mas, se essas coisas existirem mesmo, como você sabe que ele é um desses? — Twilight diz, tentando manter-se racional.

— Ora, cara amiga Twilight, meu Sentido da Pinkie não falha nunca: um fisgadinha na ponta da pata esquerda, e duas fisgadinhas na pontinha do nariz, e é assim que eu sei! Inclusive, está fisgando agorinha mesmo! — ela diz, apontando para o nariz com a pata esquerda. — Vocês estão vendo? Bem aqui!

— Eu num sei se dá pra enxergá fisgadinha, não — Applejack diz.

— Certo que ela consegue enxergar, sei lá como — Rainbow Dash responde.

— Mas o que você espera que façamos? — Rarity diz, em elegante perplexidade. — Por que você nos traria para cá, afinal?

— Eu não sei como dizer isso — Pinkie proclama dramaticamente —, mas temos que fazer ele desaparecer.

— Desaparecer? — as cinco respondem, quase em uníssono.

O prisioneiro quase derruba a cadeira.

— Meninas, eu tô meio enjoada — Fluttershy interrompe, sua voz ainda mais suave que o de costume.

— Sim! Desaparecer — Pinkie insiste. — Nós não podemos permitir que essas coisas perambulem por Ponyville.

— Pinkie! — Twilight diz, dando alguns passos à frente. — Se você quer que a gente acredite em você, você precisa nos deixar falar com ele primeiro.

— Mas, Twilight! Isso é perigoso! Eu disse que eles fazem a gente agir esquisito! Eles fazem eu agir esquisito!

AJ franze a testa. — Pinkie Pie, ninguém precisa te fazê agí esquisito — ela diz. As outras acenam com a cabeça.

— Nãnãnão! Eu não digo esquisito do tipo Pinkie! Eu digo esquisito do tipo bizarro! Um tipo esquisito de esquisito!

— Eu tenho que concordar com Applejack — Twilight diz, diplomática. — Isso tudo já é estranho, portanto precisamos falar com ele.

Pinkie Pie suspira e balança a cabeça, sua fofa crina ecoando o gesto. — Vocês estão cometendo um erro, e depois não digam que eu não avisei!

As quatro pôneis sequer titubearam; exceto por Fluttershy, que estava titubeando desde que ela chegou ali.

Pinkie dá a volta no pônei e desata sua mordaça, suscitando um súbito engasgo e uma sequência de berros:

— aaaah, puta merda! Caralho, puta que pariu, que porra é ess--

Então, a venda cai de seu rosto, e, na ânsia de abrir as pálpebras, a luz arde em seus olhos e ele as fecha de novo.

Aos poucos, ele reabre os olhos, e, assim que ele vê os seis rostos diante dele, sua reação é nula.

Ele apenas fica ali, o queixo caído, os olhos congelados em um tipo de horror que não é mero horror; é um tipo estranho de fascínio, ou pelo menos é o que Rarity presume.

Depois de longos segundos de um silêncio incômodo, Twilight dá um passo adiante. — Ãh, olá?

O pônei respira fundo, quase com dor, e faz esforço pra falar. — É, tipo… é vocês mesmo? Quê que tá…

— Ele parece estar em choque, Twilight! Pobre moço — Rarity diz, pondo-se perto dele. — Não fique com medo! Estamos aqui para ajudar.

Ele viu Pinkie Pie sacudindo a cabeça, mas ele não conseguia reagir a nada.

— Ai, meu deus, eu… quer dizer, por Celéstia, eu… eu tô aqui mesmo? Isso aqui é Ponyville mesmo?

— Estamos na floresta Everfree, na verdade — Twilight responde —, mas quem é você?

— Ãh… eu… é, tipo, vocês são as Mane S-- quer dizer, ãããh, vocês são os Elementos da Harmonia, né?

Quanto mais ele falava, mais as seis pôneis notavam um sotaque incomum na voz dele, que nenhuma delas reconhecia: aquele “meãsmo”, aquele “néãm”, não eram nada familiares.

— É isso mesmo! — Rainbow Dash responde, quase fazendo uma pose.

— Sim, mas, e você? — Twilight tenta de novo. — Qual é o seu nome?

— Meu nome — ele diz, fazendo uma pausa, como se tentasse lembrar. — Eu sou o Dainty… ai, porr-- Eu sou Dainty Tunes, e… é, é isso.

— Bem, é um prazer imenso conhecê-lo, Dainty — Rarity diz —, e eu peço mil perdões por você estar nessa condição. Talvez, se nós nos conhecermos melhor, poderemos consertar essa situação horrível.

— Meninas! Vocês não sabem o que estão fazendo, não é mesmo? — Pinkie finalmente diz.

— Pinkie! — Dainty grita, exaltado. — Me tira daqui, por favor?

A pônei rosa desfere-lhe um olhar chocado. As outras cinco viram-se para ela. — Como é que… você sabe o meu nome? Eu nunca me apresentei pra você!

Dainty gagueja por um momento. — É que, ãm, todo mundo aqui te conhece, né? Tu é tri conhecida, e tal.

— Bom, isso é mesmo — Applejack diz. — Num tem ninguém que num conhece a Pinkie.

— É! É isso mesmo! — Dainty diz com urgência. — Tu é, tipo… uma pônei tri querida, e, tipo, por isso que eu, é, isso.

— Eu não tô convencida, não! — Pinkie retruca, aproximando-se dele, o que o faz encolher-se. — Então, a sua marca especial — ela diz, inspecionando-a de perto: uma clave de sol em uma pauta, seguida de três colcheias —, você faz música, então?

— É, sim, eu faço, é — ele diz —, eu faço… canções. Canções meigas. Dainty Tunes, né, é isso.

— Quais são as tríades do campo harmônico de Lá bemol maior? — Pinkie interroga, as sílabas voando tão rapidamente que ele mal consegue entender.

Ele fica com os olhos vidrados por um momento, sem conseguir pensar. — … é, Lá bemol maior, Si bemol mai-- não, menor, menor; Dó menor, Ré bemol maior, Mi bemol maior… Fá menor, e, é, Sol diminuto?

— Qual é a diferença entre Sol menor natural e Sol menor harmônica?

Dainty pensa por um momento, um pouco menos amedrontado. — Na primeira, o Fá é natural, e, na segunda, é sustenido? Não? Não, é isso, sim.

As pôneis lá atrás trocam olhares, ainda mais perplexas do que antes.

— Qual escala eu posso usar sobre o acorde Lá aumentado? — ela diz, com um olhar incisivo.

— É… qualquer uma que tu quiser, Pinkie! — ele disse, dando de ombros.

Os olhos dela ficam arregalados por um instante. — Correto! Hm, você é o primeiro que me dá a resposta certa pra essa pergunta.

— Que foi qui acabô de acontecê aí, afinal? — Applejack retruca, ajeitando o chapéu.

— Só estava checando se ele é mesmo da música, ou se é só fingimento — Pinkie explicou didaticamente. — Então! Se você escreve canções, que tal se você cantar uma delas para nós? — ela diz, com súbito drama.

— É… cantar? Bom, tipo…

Ele toma fôlego, mas logo começa a gaguejar e engasgar-se. Os olhos dele vão de um lado ao outro, e os olhares confusos nos rostos das outras pôneis deixam-no ainda mais nervoso. Enquanto ele tenta concentrar-se e parar de tremer, ele começa:

“Sai daí… O que tu pensa que vai conseguir…”

— Nada mal — Rarity diz, olhando para Twilight de relance.

Pinkie analisa cuidadosamente a canção, e começa a marcar o pulso com a cabeça, como se aprovasse-a. De súbito, então, ela começa a cantar junto:

“E pra quê? Se ao menos tu fosse um fracasso…”

As outras cinco assistem, sem reação, enquanto a cantoria fica mais e mais entusiasmada. De repente, Pinkie balança um isqueiro aceso sobre a cabeça:

“Preguiçoso e invejoso, o Cínico Meigo! Deixa de ser burro, te põe no teu lugar!”

— É, Pinkie? O que você tá fazendo? — Rainbow diz.

Do nada, os dois param de cantar. Os olhos de Pinkie arregalam-se, a pose dela congelada.

— Eu… eu comecei a cantar uma canção que eu nunca ouvi antes? — ela diz, jogando o isqueiro longe. — Vocês estão vendo? Isso é esquisito demais, até pra mim!

As pôneis dão de ombros. — Não que tenha como a gente saber — Fluttershy diz.

— Está bem, amigas, vamos manter o foco aqui — Twilight diz, virando-se para as outras pôneis. — Não podemos deixá-lo amarrado nessa cadeira sem motivo. Isso não está certo!

— Isso sim, mas a gente devia tentá conhecê melhor esse tal de Dainty aí — Applejack diz.

— Não seria má ideia — ele disse para si mesmo, antes de tossir e pigarrear alto. — Não, bah, certo! Certo, sim, a gente devia sim. Vamo lá.

Applejack fez uma pausa antes de prosseguir. — Então, parceiro, ocê é novo por aqui, né não? Cê vem daonde?

Dainty olha de um lado para o outro, nervoso, pensando. — É… Manehattan.

— Mesmo? — Pinkie diz, cética. — De qual parte de Manehattan?

Ele engole em seco. — Como assim?

— Manehattan é um lugar imenso — ela prossegue, avançando contra ele. — De qual região você é?

Ele estremece ao olhar para ela. — Da região norte?

— Região norte! — ela retruca, virando-se para as outras. — Dá pra acreditar?

— Pega leve aí, Pinkie — Applejack diz, passando diante dela para aproximar-se do pônei amedrontado. — Dá um tempo. Então, ocê veio fazê o que aqui?

— Bom, eu… eu vim fazer música.

— Você quer ser músico em Ponyville? — Rarity intervém. — Pois você teria uma chance bem maior em uma metrópole badalada, em vez do nosso humilde povoado.

— Mas e tu, Rarity? — ele diz. — Tu não teve que sair daqui por causa da tua carreira!

Ela pausa, olhando para as outras, antes de virar-se para ele de novo. — Você conhece o meu trabalho?

— É, tipo, claro! Eu… te admiro como artista, sabe.

— Oh, que lisonja, querido! — ela responde.

— Não! Rarity, não cai nessa! — Pinkie interrompe, correndo até ela. — Você não acha isso suspeito? Ele conhece você, sabe seu nome, sabe o meu nome, mas ele não sabe nem dizer de onde ele vem! Você acha que pode confiar nele?

— Pra ser sincera, ele é meio suspeito, mesmo — Rainbow Dash diz.

— Mas e se ele estiver só um pouquinho nervoso pra falar? — Fluttershy sugere, dando alguns passos inseguros na direção dele. — Quem sabe ele não se sente melhor se a gente desamarrar ele…

Pinkie Pie salta na direção dele. — Não! Não façam isso! Se a gente soltar ele, ele pode provocar o caos na vida de todo mundo!

— Uai, se ele pode fazê isso, por qui é que ele não faz isso agora? — Applejack diz.

— Amigas, amigas! — Twilight Sparkle diz, pondo-se diante das outras cinco. — Eu acho que devíamos fazer uma votação.

Pinkie joga-se no chão. — É o fim!

Twilight vira os olhos. — Enfim, quem é a favor de soltá-lo?

Ela ergue uma pata, juntamente com Fluttershy e Rarity.

— E quem é contra?

Applejack e Rainbow Dash trocam olhares e levantam a pata. Pinkie, que cobre o rosto com uma pata, ergue a outra o máximo que pode.

— Bom, isso não ajudou em nada — Twilight diz, suspirando.

— É isso que dá querê sê democrática demais — Applejack retruca.

— Meninas, deixem que eu faça uma última pergunta para ele, que tal? — Pinkie diz, levantando-se do chão. — Se isso não fizer vocês mudarem de ideia, vocês podem fazer o que quiserem com ele.

— Aí eu já gostei — Dainty murmura para si mesmo, e disfarça, pigarreando.

Twilight dá de ombros. — Tá bom.

Pinkie volta-se para ele, que agora está encolhendo-se e tremendo. — Seu sotaque. De onde é?

Ele congela por um instante. — Meu sotaque? Bah, é…

— É um belo sotaque, querido, não leve a mal. Mas eu afirmo, eu nunca ouvi outro pônei falar como você — Rarity diz —, e eu já conversei com pôneis de muitos lugares de Equéstria.

— Quem sabe não é um sotaque, mas um jeito pessoal de falar? — Twilight diz.

— Isso! É, tipo isso, né.

— Mas essas gírias? De que região isso é? — Fluttershy diz às outras. — Eu não as reconheço.

— Poderia ser o sotaque de Fillydélfia — Pinkie diz.

— É isso! — Dainty diz. — Isso mesmo.

Pinkie volta-se e aponta para ele, de pé nas patas traseiras. — A-há! Eu te peguei! Esse sotaque não é de Fillydélfia!

— … não? — ele choraminga.

— Você é uma auto-inserção!

— Tá bom, eu confesso! — ele grita. — Eu sou uma auto-inserção! Uma auto-inserção idiota, ridícula e sem sentido. Tu tem razão. Tu… vocês têm razão de ficarem bravas comigo.

— Nós não estamos bravas, amigo — Fluttershy diz.

— Eu sim! — Pinkie retruca. — Ele mentiu para nós! Ele nos enganou!

— É, eu tô com ela — Rainbow Dash diz, irritada.

— Mas por que essas auto-inserções são tão ruins? — Fluttershy diz. — O que são elas?

— São seres desconhecidos, originários de uma dimensão paralela, que se passam por pôneis em Equéstria e vivem uma vida diferente — Twilight explica. — Às vezes eles são a causa de distorções e anomalias no nosso mundo. Eles também são chamados de OCs.

— Original Characters — Dainty diz.

— Êpa, peraí — Applejack diz. — Cê sabia disso, Twilight? Cê sabia desde o começo?

— É claro. Eu já li a respeito, mas eu nunca vi um ao vivo.

— Bom, agora tu já viu, Twilight — Dainty diz, sua voz coberta de vergonha.

— E como é que a Pinkie sabe? — Rainbow diz.

— Por que é que ela não saberia? — ele responde. — Ela é a Pinkie Pie.

— O que você sabe a meu respeito, moço? — ela retruca, irritada.

— Bom, bastante, na verdade — ele diz, olhando para o chão, sem conseguir encará-la. — Mesmo eu vindo de uma dimensão diferente, a gente tá… conectado, de certa forma, dá pra se dizer. E eu admiro tudo em ti, e, por mais que esse seja um jeito… esquisito de te conhecer, eu tô grato por poder falar contigo. Tu é… genial.

Ela dá um sorriso breve antes de forçar uma carranca. — Não venha com conversa mole para cima de mim, rapaz! — ela diz. — Eu nunca vi uma auto-inserção que não causou bagunça por aqui.

Twilight franze a testa. — Quantas você já viu, Pinkie?

— Ela deve ter sequestrado todas elas — Rainbow responde.

— Que bobagem, claro que não! — Pinkie diz. — Elas às vezes vêm e vão, sem vocês verem. Mas eu vejo.

— Mas OCs não são todos ruins, eu juro! — ele diz. — Não é verdade, Rarity?

Ele pára de respirar, percebendo que fez algo muito errado.

Rarity dá uma olhada nervosa para as amigas. — Ãh, moi? Por que eu saberia disso, querido?

— É… porque tu é o Elemento da Generosidade, não é? — ele diz, estremecendo. — Tu é o tipo de pônei que saberia disso. E a Fluttershy, o Elemento da Gentileza, saberia melhor do que qualquer pess-- qualquer pônei. Por isso vocês queriam me soltar… Não que as outras sejam ruins, né, claro que não! Vocês são ótimas, todas vocês, eu só… é, esquece.

— Então, por que você está neste mundo? — Twilight diz.

— Na real, eu nem sei — ele responde. — Eu acho que… que eu queria saber como é passar por aqui, nesse mundo. Eu não queria nem conhecer vocês em pess-- é, em pônei, no caso, mas eu… eu ia ficar longe de vocês, ver as coisas à distância, e então, de repente, ir embora sem deixar rastro, tipo, fui. Tchau, radar, vamos adiante… Peraí, eu citei Engenheiros? Desculpa, gurias, eu sou um filho da p-- um tolo.

As pôneis trocam olhares confusos por um momento.

— Então, Pinkie — Rarity diz —, não havia motivo nenhum para isso tudo.

— Ah, não ponham a culpa nela, não — Dainty intervém. — Ela tem métodos… não ortodoxos, mas ela tinha razão pra suspeitar. Eu entendo ela. Ela é uma pônei maravilhosa, e eu jamais ficaria bravo com ela.

— Sim, sim, mas eu te devo um pedido de desculpas, mesmo assim — Pinkie diz, finalmente dando-lhe um olhar amistoso. — Desculpa por ter feito isso com você. E desculpa por ter assustado vocês, amigas. Eu vou ter cuidado da próxima vez… e eu não vou sequestrar ninguém.

— Certo, mas a gente vai fazer o que com ele? — Rainbow diz. — A gente pode confiar nele?

— Olhem só, meninas, eu faço uma promessa. Eu nunca, nunca vou interferir na vida de vocês. Eu nunca vou fazer nada que possa criar problema pra ninguém, seja em Ponyville ou em outro lugar. E, se eu algum dia fizer uma besteirinha que seja, eu vou embora pra sempre; e, se eu não for, vocês dão um jeito de se livrar de mim do jeito que for. Eu não sei se a minha palavra vale muita coisa, mas é tudo que eu tenho.

— É uma promessa da Pinkie? — a pônei rosa cobra.

— Sim, promessa da Pinkie! — ele diz de pronto. — Eu juro e… como é que é, mesmo?

— Eu juro e prometo colocar um bolinho no olho esquerdo! — ela diz.

Ele recita a promessa, com certo gosto. Ela sorri para ele.

— Então, o que dizem, meninas? — Twilight diz.

— Está bem, soltem ele — Pinkie diz. — Mas eu vou ficar de olho em você, ouviu?

— Eu sei, Pinkie — Dainty sorri.

Então, com uma mágica simples, Twilight desfaz os nós das cordas, e Dainty Tunes salta da cadeira, esticando as patas e o pescoço, quase em desespero. — Ai! Ah, obrigado, obrigado! Eu tava ficando maluco sem conseguir me mexer… Obrigado mesmo!

— Não tem de que, Dainty — Twilight responde. — Mas lembre-se da sua promessa.

— Claro! — ele responde, os olhos arregalados. — Eu sei o que acontece quando alguém quebra uma promessa da Pinkie… Ah, e… posso fazer um pedido? Podem dizer pro Spike que ele é demais e ele é maravilhoso e eu sou fã dele?

Twilight faz uma carranca. As outras trocam olhares.

— Vai embora, tá bom?

— Claro! Claro — ele diz e sai correndo imediatamente, quase tropeçando na primeira curva.

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